EPÍLOGO
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“Muitos diriam que comecei pelo fim. Outros diriam que o fim foi o que me fez começar a viver. Sem demoras, sem devaneios, sem rodeios... o que motivou este fim fora o que me ocorreu por esta vida. E, para isso, o sonho de alcançar a eternidade está aqui”.
23:00 – Tower of Eternity
- Restaram apenas trevas.
Ao som dos passos de Lucian, sua voz ecoou no enorme saguão espectral da Torre. As paredes espelhadas a sua frente refletiram sua imagem pálida e cansada, demonstrando que seus sentimentos já não eram como antes. A frieza de seu olhar se igualava a escuridão que vinha do céu enevoado.
Lucian sabia que era a única pessoa ali naquela parte da cidade. A Tower of Eternity havia a pouco passado para seus cuidados. Com a morte de seu pai, o aglomerado de indústrias fora deixado para ele no testamento. Grande parte dos negócios empreendidos pelo antigo chefe da família agora estavam em suas mãos.
Mas, o desejo de Lucian não era exatamente este. Desde sempre vivera a sombra de seu pai. Sua família sempre o menosprezara desde que...
“Senhor Lucian”
...
“Senhor Lucian, o senhor está aí?”
...
O telefone tocou duas vezes apenas. Lucian não o atendeu. Não suportava mais ser incomodado por todos aqueles fúteis, insignificantes e medonhos homens que surgiam a cada minuto para lhe prestar falsas condolências. Os empregados de seu pai o estavam procurando desde a saída repentina da Sinfônica de Eliza. A pianista veio de outro país apenas para ali prestar uma homenagem aquele homem que representou uma história, um mito, que criou uma vida e semeou uma outra inteira de práticas em prol daqueles que ingressam na Eternity. A empresa assim denominada há anos alcançou o patamar mais alto do país. Sua influência e, por conseqüência, de seu dono eram de profunda importância para a soberania do país.
Mas,
Como filho, Lucian sabia que uma imagem ali fora montada desde o principio. Uma ilusão que a todos convenceu, mas que aos seus olhos sempre esteve clara como a neve de inverno em sua cidade natal. De fato, a verdade aqui era mais densa, escura como a noite em uma cidade esquecida pelo tempo.
“Nova mensagem”
O seu celular vibrou. Ao reconhecer o nome dela na tela, Lucian imediatamente apagou a mensagem. Estava farto de aquela garota tê-lo procurado por todas as noites após a perda, mesmo quando estava em sua última homenagem ao pai, mesmo quando uma lágrima de dor, vergonha e satisfação varreu sua face naquele momento.
O celular vibrou novamente.
Agora, uma segunda tentativa.
Copo de vidro.
Água.
Celular afundando até parar de tocar.
“Será que Miria continuará me atormentando para sempre?” – pensou, enquanto vigiava a noite pela enorme vidraça.
Os prédios ao longe estavam apagados. A maior parte da cidade estava morta naquela hora da madrugada. Apenas no lado mais ao leste da cidade, onde fica o Teatro em que Miria estava a se apresentar ainda mantinha suas luzes, os holofotes vagando de um lado para o outro pela noite.
Ao forçar o vidro para o lado, o vento soprou forte em seu corpo. O cabelo cobriu seu olho direito cor de marfim e seu terno negro parecia uma capa agitando ao espírito da glória eminente.
- Estou petrificado, ele diria.
Sorrindo, Lucian se debruçou sobre o parapeito. Seu pai raramente o trazia ali, pois mesmo possuindo torres, edifícios e castelos, exuberantes em sua verticalidade, o medo de enxergar a altura era um de seus defeitos. Sempre ficava enjoado, nervoso e frio quando precisavam voar de um lugar a outro.
- Um carro? – indagou. Mesmo estando na cobertura, os faróis iluminavam como pontos refletidos lá em baixo. Quando o carro, a porta rapidamente se abriu. O vestido branco de Miria saltou do automóvel.
Olhou para cima. Olhou para baixo. Olhares possíveis e impossíveis de serem cruzados.
Miria caminhou apressada em direção a entrada na Torre.
- Ela não me deixará nunca, não estou certo? – disse, fitando as nuvens pesadas que começavam a despejar gotas por seu caminho de volta. Quando adentrou em sua sala, o elevador já indicava a presença de alguém em poucos segundos. Miria estava vindo ao seu encontro novamente. O passado estaria ali ao seu alcance. O destino será decidido com um toque ou simplesmente por uma palavra?
Quando o elevador parou, Miria ergueu os olhos, apenas para ver a antiga sala do homem a quem respeitara como a um pai, e agora, pertencente àquele por quem estava apaixonada. Ao primeiro passo, apenas a sombra de alguém atravessou seu corpo e tocou seus lábios...
Um beijo.
Uma troca de olhares.
Uma aversão.
- Então – indagou Lucian para a moça de olhos negros como a noite. – Veio pegar sua parte da herança?
ownn adoro muito!!me sinto lisonjeada, pois fui uma das primeiras a ler esta escritura maravilhosa...ainda quando era um esboço....=D
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