segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Project Songs of my Unlimited

part 02 em construção:



– Veio pegar sua parte da herança?

Miria ficou pálida. Lucian largou um singelo sorriso. Quando mais os dois olhavam um para o outro, a tensão parecia crescer a ponto de explodir o lugar inteiro em milhares de fagulhas.
Mas, ambos sabiam que tudo implicava para terminar ali mesmo dessa forma. E, diante das circunstâncias, o tempo era preciso.

- Eles logo estarão aqui – disse Miria, demonstrando o nervosismo que a aflorava. – Você não terá mais de um minuto até eles chegarem.

- Eu sei. E, mesmo que eles cheguem, não haverá mais uma chance de escapar.

- Mas...

Lucian entoava as palavras sem dar importância à situação que estava por vir. Afinal, ele já lidara com semelhantes ocasiões nos dias passados. E, mesmo tendo metade da proteção que seu pai o deixara, a vida ainda corria em suas veias.

- Mas agora, tudo será diferente.

Lucian projetou-se em direção da escrivaninha usada por seu pai. Perante o tamanho do recinto, a mesa de magno não representava quase nada no lugar, mas soou quando ele sentou-se a beirada.

- Você foi criada por meu pai desde os sete anos Miria. Ele fez questão em demonstrar seu melhor lado para você. Ele Cuidou de você, lhe deu atenção e, por isso, você fechou os olhos para o que ele realmente empreendeu.

- Mesmo que ele tenha feito o que fez, você precisa entender que era necessário para que esta busca terminasse, Lucian.

- Eu sei, eu sei.

Lucian abriu a ultima das gavetas da mesa e de lá retirou o livro que seu pai pagou com metade de seus bens.

- Isso é!?

- Exato.

Lucian colocou o livro em cima da mesa. Miria aproximou-se furiosamente, tentando tocar o livro, mas o garoto não permitiu.

- Você não deve tocá-lo... Você mesma sabe as conseqüências de tê-lo.

(...)

- Lucian.

- A harmonia foi tocada Miria. É melhor me deixar ir...

E, segundos depois de suas palavras, um enorme clarão resplandeceu nas vidraças as suas costas. Ao tempo que Lucian agarrou Miria e o livro e jogou-se para frente da mesa, o vidro se estilhaçou por completo, invadindo o saguão sem misericórdia.

Quando a poeira de vidro baixou e eles puderam erguer os olhos, Lucian e Miria olharam para a fachada, só para ver um dos helicópteros da Fenrir cortando os céus. E, quando a porta de aço correu para o lado, o sorriso que os dois não viam a semanas se expôs com toda sua magnificência.

- Há quanto tempo, Lucian.

“Frey”

domingo, 30 de agosto de 2009

Project Songs of my Unlimited

parte 01

EPÍLOGO



...
“Muitos diriam que comecei pelo fim. Outros diriam que o fim foi o que me fez começar a viver. Sem demoras, sem devaneios, sem rodeios... o que motivou este fim fora o que me ocorreu por esta vida. E, para isso, o sonho de alcançar a eternidade está aqui”.


23:00 – Tower of Eternity

- Restaram apenas trevas.


Ao som dos passos de Lucian, sua voz ecoou no enorme saguão espectral da Torre. As paredes espelhadas a sua frente refletiram sua imagem pálida e cansada, demonstrando que seus sentimentos já não eram como antes. A frieza de seu olhar se igualava a escuridão que vinha do céu enevoado.

Lucian sabia que era a única pessoa ali naquela parte da cidade. A Tower of Eternity havia a pouco passado para seus cuidados. Com a morte de seu pai, o aglomerado de indústrias fora deixado para ele no testamento. Grande parte dos negócios empreendidos pelo antigo chefe da família agora estavam em suas mãos.

Mas, o desejo de Lucian não era exatamente este. Desde sempre vivera a sombra de seu pai. Sua família sempre o menosprezara desde que...
“Senhor Lucian”

...

“Senhor Lucian, o senhor está aí?”

...

O telefone tocou duas vezes apenas. Lucian não o atendeu. Não suportava mais ser incomodado por todos aqueles fúteis, insignificantes e medonhos homens que surgiam a cada minuto para lhe prestar falsas condolências. Os empregados de seu pai o estavam procurando desde a saída repentina da Sinfônica de Eliza. A pianista veio de outro país apenas para ali prestar uma homenagem aquele homem que representou uma história, um mito, que criou uma vida e semeou uma outra inteira de práticas em prol daqueles que ingressam na Eternity. A empresa assim denominada há anos alcançou o patamar mais alto do país. Sua influência e, por conseqüência, de seu dono eram de profunda importância para a soberania do país.
Mas,

Como filho, Lucian sabia que uma imagem ali fora montada desde o principio. Uma ilusão que a todos convenceu, mas que aos seus olhos sempre esteve clara como a neve de inverno em sua cidade natal. De fato, a verdade aqui era mais densa, escura como a noite em uma cidade esquecida pelo tempo.

“Nova mensagem”

O seu celular vibrou. Ao reconhecer o nome dela na tela, Lucian imediatamente apagou a mensagem. Estava farto de aquela garota tê-lo procurado por todas as noites após a perda, mesmo quando estava em sua última homenagem ao pai, mesmo quando uma lágrima de dor, vergonha e satisfação varreu sua face naquele momento.
O celular vibrou novamente.

Agora, uma segunda tentativa.

Copo de vidro.

Água.

Celular afundando até parar de tocar.

“Será que Miria continuará me atormentando para sempre?” – pensou, enquanto vigiava a noite pela enorme vidraça.

Os prédios ao longe estavam apagados. A maior parte da cidade estava morta naquela hora da madrugada. Apenas no lado mais ao leste da cidade, onde fica o Teatro em que Miria estava a se apresentar ainda mantinha suas luzes, os holofotes vagando de um lado para o outro pela noite.

Ao forçar o vidro para o lado, o vento soprou forte em seu corpo. O cabelo cobriu seu olho direito cor de marfim e seu terno negro parecia uma capa agitando ao espírito da glória eminente.
- Estou petrificado, ele diria.

Sorrindo, Lucian se debruçou sobre o parapeito. Seu pai raramente o trazia ali, pois mesmo possuindo torres, edifícios e castelos, exuberantes em sua verticalidade, o medo de enxergar a altura era um de seus defeitos. Sempre ficava enjoado, nervoso e frio quando precisavam voar de um lugar a outro.

- Um carro? – indagou. Mesmo estando na cobertura, os faróis iluminavam como pontos refletidos lá em baixo. Quando o carro, a porta rapidamente se abriu. O vestido branco de Miria saltou do automóvel.

Olhou para cima. Olhou para baixo. Olhares possíveis e impossíveis de serem cruzados.
Miria caminhou apressada em direção a entrada na Torre.

- Ela não me deixará nunca, não estou certo? – disse, fitando as nuvens pesadas que começavam a despejar gotas por seu caminho de volta. Quando adentrou em sua sala, o elevador já indicava a presença de alguém em poucos segundos. Miria estava vindo ao seu encontro novamente. O passado estaria ali ao seu alcance. O destino será decidido com um toque ou simplesmente por uma palavra?

Quando o elevador parou, Miria ergueu os olhos, apenas para ver a antiga sala do homem a quem respeitara como a um pai, e agora, pertencente àquele por quem estava apaixonada. Ao primeiro passo, apenas a sombra de alguém atravessou seu corpo e tocou seus lábios...
Um beijo.
Uma troca de olhares.
Uma aversão.

- Então – indagou Lucian para a moça de olhos negros como a noite. – Veio pegar sua parte da herança?

Project: Heaven & Hell

E se,
a verdade estivesse diante de seus olhos...
E,
somente se você pudesse enxergá-la...
mesmo que todos aqueles que você conhece e ama a escondessem de você...
Seu mundo...
não,
não apenas o seu mundo,
tudo mudaria para sempre.